Por Samuel Torralbo
Compreender a dinâmica entre o humano e o
espiritual, o temporal e o atemporal é certamente essencial para a
caminhada cristã. Cada cristão necessita diariamente reconhecer e
conhecer as essencialidades da sua própria humanidade, antes mesmo de
perscrutar os mistérios da espiritualidade. Deste modo, é saudável para
qualquer discípulo de Jesus Cristo ter a consciência de que, antes de
ser um crente, ele é gente, antes de ser “homem de Deus”, ele é homem, e
antes de ser espiritual é um ser humano.
Eventualmente, o cristão pode
desenvolver inconscientemente a cultura do “super crente”, onde o
entendimento é de uma vida extraordinária que elimina o fracasso, o
medo, e as frustrações da vida, porém, esta percepção equivocada
perdurará até o momento, em que, o individuo fracassar ou for novamente
assediado pelo medo, redescobrindo que continua sendo um ser humano,
relativo, frágil e carente da graça e do amor divino.
Infelizmente, a teologia e a missão de
alguns redutos cristãos que objetiva transformar seres humanos em
semi-deuses, ou numa espécie de humanjos (homens
anjos), provoca estragos indizíveis na mente de pessoas sinceras, mas
equivocadas com relação a consciência do significado do verdadeiro
evangelho de Cristo Jesus.
É valido ressaltar ainda que, a maioria
dos cristãos que em algum momento creu na falácia da supremacia
espiritual ( que pretende nos tornar em seres angelicais), normalmente
acabam possuindo um senso de preconceito, e juízo tão elevado como sua
própria loucura espiritual disfarçada de falsa piedade, podendo vir
fatalmente ser vitimado pela verdade eterna que declara: “Porque com o
juízo com que julgardes sereis julgados, e com a medida com que tiverdes
medido vos hão de medir a vós.” (Mateus 7.2).
Meu objetivo não é justificar o pecado
característico de nossa natureza pecaminosa, nem tão pouco engrossar as
fileiras do liberalismo teológico em ascensão neste momento, mas antes,
desejo celebrar a beleza do paradoxo da nossa humanidade concedida pelo
próprio Deus:
- Que nos formou do pó da terra, ao mesmo tempo em que, nos fez alma vivente.
- Que colocou o tesouro do conhecimento
da gloria divina em vasos de barro para que a excelência do poder seja
Dele e não de nós. (2 Coríntios 4.7)
- Que escolheu homens limitados, simples, e rejeitados para evangelizar o mundo com o evangelho da paz.
- Que conhece a nossa estrutura, e
lembra-se de que somos pós, mas mesmo assim, nos faz dominar sobre as
obras das tuas mãos. (Salmo 8.5)
- Que declara um adultero e homicida como “o homem segundo o seu coração”.
- Que nos faz almejar pelas coisas do
alto, mesmo sabendo que o pecado é intrínseco a nossa existência,
levando o apóstolo a clamar: “Porque o bem que quero fazer não faço, mas
o mal que não quero esse faço. Miserável homem que eu sou! quem me
livrará do corpo desta morte?” (Romanos 7.19,24)
Em resumo, a beleza do ser humano, não
está na possível perfeição dos anjos, ou na absoluta santidade divina,
mas antes, nas contradições que o habitam, e fazem o próprio Deus
declarar – “A minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na
fraqueza.” Levando assim, o apóstolo (Paulo) a afirmar – De boa vontade,
pois, me gloriarei nas minhas fraquezas, para que em mim habite o poder
de Cristo.” (2 Coríntios 12:9).
Fonte: Púlpito Cristão
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