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quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Se eu pudesse ter um lar outra vez...


Se eu pudesse ter um lar outra vez


Carlos adentrou o consultório e sentou-se à minha frente um tanto cabisbaixo e abatido.
-Tudo acabou, e desta vez não há mais esperança, disse ele.
Sua voz modulada por muita emotividade, deixava transparecer frustração e abatimento.
- Como se sente em relação a tudo isso? Perguntei-lhe.
- Por um lado estou triste, por outro, não! Estou triste por ver morrer tantos sonhos e planos que juntos construímos e ter que admitir o fim de mais de treze anos de união. Por outro lado, sinto-me, de certa forma, aliviado. Agora, talvez, não venhamos causar mais sofrimentos um ao outro, e possamos encontrar novos caminhos e novos horizontes, não obstante, nunca fosse esta a minha vontade.
Embora um tanto ferido e golpeado pelo fracasso na vida familiar, o experiente professor de quase 40 anos ainda exibia no fundo dos olhos uma inexplicável esperança de reconstruir seu lar. Desde os nossos primeiros encontros, aprendi a admirar sua prudência, humildade e sabedoria, porém aquele momento de crise parecia demandar todas as suas virtudes.
-O que faria se pudesse começar a vida outra vez ao lado de sua esposa e de seus filhos? Interroguei-lhe novamente. Ele permaneceu por algum tempo calado e sua resposta veio somente após algum tempo de uma sensível reflexão. Olhando-me firmemente nos olhos, suas palavras passaram a revelar profundas verdades de sabedoria, que durante todos aqueles anos permaneceram escondidas no profundo de seu coração. Se eu pudesse ter um lar outra vez, disse ele:
1 – EU AMARIA MAIS
Hoje, posso compreender que a principal causa da ruína de muitos relacionamentos é que as demonstrações de afeto e carinho vão lentamente se extinguindo, até desaparecerem por completo. Em muitos relacionamentos não é o amor que se acaba, mas sim, o empenho e a vontade para expressá-lo. A falta de interesse e espontaneidade em compartilhar amor é o caminho mais curto e seguro para apagá-lo. O amor nunca morre de morte natural, disse Anais Nin, mas quando se deixam de alimentar suas fontes. Se eu pudesse ter um lar outra vez, aproveitaria mais as oportunidades e ocasiões para expressar o amor.
A cada dia, me esforçaria por tornar esse amor uma experiência prática e visível. Deixaria claramente que meus filhos contemplassem nossos beijos e abraços, e que outras pessoas notassem nosso caminhar de mãos dadas e nossos afagos, sem me envergonhar disso. Acima de tudo, traduziria esse amor em palavras e não deixaria que nenhuma outra dádiva pudesse substituí-las. Só aqueles que declaram seu amor podem edificar as bases para serem amados, e só os que compartilham o amor, sem reservas, podem esperar a recompensa de seus esforços.
O egoísta faz de seus sentimentos um círculo para o isolamento, mas aquele que ama, faz do amor uma ponte para atingir os corações. O egoísta sempre busca receber mais do que oferece, mas aquele que ama, procura primeiro ser e proporcionar ao outro, tudo aquilo que ele mesmo deseja receber. Prescindir de atitudes e palavras de amor em um relacionamento é fatalmente ir decretando seu fracasso e sua morte. Por isso, se eu pudesse ter um lar outra vez, eu dedicaria mais amor à minha esposa e aos meus filhos.
Sobretudo, me empenharia em amar e respeitar a mim mesmo. Creio que não podemos amar verdadeiramente aos outros, se não aprendemos a amar a nós mesmos. Uma pessoa que não se valoriza, aos poucos também vai perdendo o encanto aos olhos do outro. Temos que amar a nós mesmos para transmitir aos outros a segurança para que também nos ame. Aquele que não aprendeu a valorizar a si mesmo, tampouco dará valor ao amor do outro, uma vez que não se sentirá digno desse amor, e por isso tenderá a rejeitá-lo ou depreciá-lo. Se eu pudesse ter um lar outra vez, eu procuraria me estimar mais, porque me valorizando eu estaria valorizando, na verdade, o próprio amor de minha esposa por mim. Amando-a com ternura e respeito eu estaria amando a mim mesmo e valorizando o meu próprio potencial. Estaria reconhecendo a importância do seu amor para minha própria segurança e aceitação. Em verdade, eu me amaria mais, apenas para dessa forma poder amá-la mais e melhor. Só a sensação do verdadeiro amor pode dar ao coração a dignidade para investir em sonhos, e só ele nos confere a segurança para alcançarmos nossos planos e objetivos.
2 – EU NÃO POUPARIA ELOGIOS
Com freqüência, em nossos lares, somos tão ávidos em apontar defeitos e a criticar as falhas, mas somos tão resguardados quanto a fazer elogios e a destacar as virtudes. Muitos relacionamentos seriam aprimorados se, apenas, houvesse mais empenho em admirar um ao outro, entretanto contidos por uma timidez defensiva, muitos hesitam em revelar isso. Pais e filhos poderiam se tornar mais íntimos caso demonstrassem mais apreciação uns pelos outros, mas se ocultam por detrás de um orgulho carente, e não expõem seus sentimentos. Se eu pudesse ter um lar outra vez, não iria poupar esforços em elogiar minha esposa e meus filhos. Procuraria todos os dias, ocasiões para destacar suas virtudes e assinalar suas qualidades de maneira honesta e sincera. Estaria mais atento às vezes em que ela fosse ao cabeleireiro e a perceber os novos arranjos de seu penteado. Ao me sentar à mesa estaria mais atento a qualquer novo sabor de sua comida, e quando fôssemos sair, eu ficaria vigilante para apreciar qualquer belo detalhe em sua roupa. Não deixaria de incentivar minhas crianças ainda quando elas errassem e de declarar o quanto me orgulhava de tê-las como filhos.
Eu elogiaria mais, porém faria isso, sobretudo na frente dos outros, para que os outros conhecessem suas qualidades e o quanto eu mesmo as apreciava. A arte de fazer elogios é o primeiro passo na arte de amar as pessoas, afirmou George W. Crane. Eu elogiaria, e assim abriria caminhos para o amor, derribando as gélidas paredes da mediocridade e da rejeição. Para cada defeito de meus familiares eu procuraria considerar as inúmeras qualidades e para cada erro eu consideraria as muitas vezes em que já acertaram. Elogiar de maneira justa e sincera é investir no amor. Creio que o elogio franco e leal é um alimento para a alma e fortalece os relacionamentos. Aqueles que costumam fazer uso dele, formam terreno para que o amor floresça e perdure.
3 – EU TOMARIA A INICIATIVA DO DIÁLOGO
Em qualquer relacionamento, quando existe qualquer conflito ou discórdia, é muito comum que uma das partes se feche ou emburre dominado pela mágoa e pelo ressentimento. O egoísmo e o orgulho ferido podem tornar a comunicação um processo impraticável e enfraquecer o amor e a amizade. Porém, se eu pudesse ter um lar outra vez, eu cuidaria para que o rancor e a mágoa nunca se tornassem obstáculos para o diálogo e o perdão. Com freqüência, perdemos tanto tempo deixando amadurecer a ira e preservando o silêncio, que a hostilidade e a antipatia acabam por sufocar o amor no coração. É justamente quando se vai morrendo o diálogo que se aviva a ira, abrindo espaços para a agressão física ou verbal. Há pouco tempo uma esposa amargurada me confessou: – A pior solidão é aquela que se vive a dois, pela total ausência de diálogo.
Creio que o “suave milagre” que abrandaria muitos corações amargurados e cheios de ira, seria simplesmente a prática do diálogo aberto e sincero com os familiares. Se eu pudesse reconstruir meu lar pesaria mais o poder das minhas palavras e as passaria pelo crivo da verdade, da edificação e da necessidade. Procuraria o diálogo mesmo quando estivesse coberto de razão, pois a parte que se julga certa e ferida é geralmente a mais hesitante em perdoar e esquecer. Se porventura percebesse que estava irritado ou ferido demais para dialogar, me infligiria à disciplina do silêncio até que tudo se acalmasse, ou caminharia lentamente pela praça, mas não permaneceria remoendo vingança, desforra ou retaliação. Existem muitas maneiras de se transmitir amor, mas são as boas palavras e a comunicação franca e sincera, a maneira mais rápida e segura de expressar sentimentos e transformar o coração.
4 – EU PERDOARIA MAIS E PEDIRIA MAIS PERDÃO
Aprender a reconhecer erros, e a pedir e conceder o perdão é um dos maiores atos de grandeza em um relacionamento. O perdão impede que o rancor e o ódio se abriguem e contamine a mente e o coração. A relutância em conceder ou pedir perdão é a ferida que mina a afeição e acaba destruindo grandes relacionamentos. Há algum tempo, uma senhora casada me procurou e confessou: – Quando eu era menina e fazia alguma coisa errada minha mãe passava dias sem conversar comigo como castigo. Ela nunca me agraciava com o seu perdão. Até hoje carrego, em minha vida, as conseqüências daqueles anos. Por isso, se eu pudesse ter um lar outra vez, eu perdoaria mais e me disciplinaria a pedir mais perdão.
Caso pudesse restaurar meu lar outra vez, teria mais coragem para reconhecer meus erros e mais humildade para corrigi-los. Pediria perdão pela voz alterada, pela data esquecida, pela acusação sem fatos, pela paciência não contida. Porém, pediria perdão logo, e não permitiria que a ira se arrastasse até o dia de amanhã, pois o ódio quando nutrido, torna mais duro e insensível o coração. De igual maneira, eu escolheria perdoar mais. Perdoaria mais o atraso dela para algum compromisso, a palavra que não consegui digerir, a falta de tempo que interpretei como indiferença, ou o sorriso inadequado que julguei ser deboche. Corrigiria meus filhos, quando necessário, mas nunca permitiria que a disciplina se tornasse um obstáculo para a expressão do amor. Dar e pedir perdão pode parecer frouxidão e fraqueza, mas são atitudes dignas dos fortes, daqueles que enaltecem o amor e procuram mantê-lo vivo em seus relacionamentos.
5- EU NÃO PRESCINDIRIA DO TOQUE
Com muita freqüência a indiferença, o afastamento e o prescindir do toque é um dos sintomas dos relacionamentos que se tornam antigos e monótonos. Tenho notado que entre aqueles que se afastam, há um processo lento e contínuo de ausência de afagos, carinhos e beijos. Se eu pudesse reconstruir o meu lar, colocaria como primazia abraçar e tocar mais vezes meus familiares. Ao retornar para casa no final de mais um dia, eu não deixaria de beijá-los. Quando retornasse de alguma viagem permaneceria um tempo abraçado com ela, antes mesmo de entrar em casa. Mesmo nas reuniões da igreja, eu não deixaria de abraçá-la ou segurar suas mãos e permitiria que ela inclinasse sua cabeça sobre meus ombros, ainda que alguns olhassem em tom de reprovação.
Eu procuraria tocar e abraçar minha esposa, sobretudo nos momentos considerados neutros, quando ela nem ao menos esperasse. Caminharia mais vezes, abraçado com ela pelas ruas, a levaria mais vezes comigo em meus compromissos e iria buscá-la mais vezes na escola, ou no trabalho. Foi o reverendo Theodore Hesburg que uma vez expressou: a coisa mais importante que um pai pode fazer por seu filho, é amar a mãe dele e vice-versa. Os filhos podem aprender a expressar o amor e sentir maior segurança no mundo se percebem que existe amor e respeito entre seus pais, escreveu Jonh Drescher. Aqueles que procuram manter sempre vivas as demonstrações de afagos, carinhos e toques em sua família, abrem um caminho para que o amor cresça e jamais se apague.
6 – EU TOMARIA MAIS TEMPO PARA SORRIR
Tenho percebido que o mau-humor e as preocupações excessivas são combinações perniciosas que podem azedar muitos relacionamentos. Em muitas ocasiões levamos a vida tão a sério, que a angústia e os aborrecimentos tornam a convivência um fardo insuportável. Muitas vezes, carregamos para os nossos lares todos os dissabores de cada dia e, nem sequer, nos olvidamos em deixar transparecer nosso desprazer e descontentamento. Transferimos nossas zangas para nossos familiares de modo que todos são afligidos e contaminados. Esquecemos que relaxar, brincar e sorrir são os bálsamos que podem alegrar e restaurar muitas casas tristes e silenciosas. Lembro-me do meu caçula quando nos inocentes anos da infância se atirava em meu colo antes de dormir e me pedia: – Papai conte-me uma história engraçada para que eu possa rir quando estiver dormindo.
Se eu pudesse ter um lar outra vez, eu riria mais, pois já descobri que muitas situações que por vezes nos levam ao nervosismo e ao mau humor poderiam ser aliviadas, apenas, com uma boa gargalhada. É gostoso conviver com pessoas alegres e engraçadas, mas é tão difícil conviver com aquelas que levam tudo tão a sério, que têm a resposta pronta para tudo, e que sempre se defendem com justificativas e racionalizações. Se eu pudesse ter um lar novamente, eu pensaria em mais histórias engraçadas para contar à minha esposa e aos meus filhos, ao invés de só retalhar falhas ou deveres. Riria do bolo queimado que ficou duro como uma pedra e do arroz papa que saiu sem um pingo de sal. Riria quando as crianças se amontoassem em meu colo depois de um dia de trabalho e me pintassem o rosto com tinta guache. Riria quando ao abrir minha mala no hotel descobrisse que ela se esqueceu de colocar minhas peças íntimas e, ao invés disso, as trocou pelas dela. Riria quando tropeçasse e caísse diante de todas as crianças ainda que doesse um pouco. Eu riria mais, e assim as coisas se tornariam menos aflitivas e oprimentes e a convivência passaria a ser mais cheia de alegria e significado.
7 – EU LHES FALARIA MAIS SOBRE DEUS
Em muitas ocasiões, em nossos lares, podemos nos tornar tímidos e indiferentes no que diz respeito aos assuntos espirituais que praticamente os extinguimos de nossas relações familiares. Se eu pudesse ter um lar outra vez faria de Deus um constante aliado na direção de minha família. No mundo atual criar um filho sem fé e sem religião é como soltá-lo, sem bússola e sem remo, no oceano da vida. É torná-lo forte candidato a fracassar no amor e na vida.
Creio que a maior tentação no mundo, hoje, é a de nos tornarmos tão preocupados e absortos com os assuntos do dia-a-dia e com a busca do próprio bem-estar, que perdemos o senso da dependência de Deus. Deixamos de compartilhar momentos de oração e meditação e nos tornamos tímidos em dedicarmos tempo para orarmos unidos em família. Se eu, porém, pudesse reconstruir o meu lar, gastaria mais tempo em comunhão com Deus, ao invés de lutar com as minhas próprias forças para superar problemas ou prover necessidades. Convidaria mais vezes minha esposa e meus filhos para que orassem comigo e, acima de tudo, lhes ensinaria o sobre amor de Deus.
Se deixarmos o coração de nossos filhos vazios de uma fé e de uma religião, eles poderão preenchê-lo com danosos substitutos, que não restará mais lugar para Deus. Um dia uma professora fez uma bela descrição para a sua classe sobre o amor e o caráter de Deus. No final, um pequeno menino ergueu a mão e disse: – Professora, Deus é igualzinho ao meu pai. Se eu pudesse ter um lar outra vez era isto o que eu queria ser.
UM NOVO COMEÇO?
Após me falar todas essas palavras, Carlos abaixou a cabeça e permaneceu algum tempo calado e reflexivo. Seus olhos foram se fechando e uma pequena lágrima apareceu. Esperei com paciência e novamente lhe dirigi a palavra.
- Carlos, por que você não procura outra vez seus familiares e tenta dar uma nova oportunidade ao amor? Como você mesmo disse, o mais difícil na reconstrução de um lar assolado é deixar prevalecer o orgulho e o egoísmo. São essas as mazelas que nos impedem de nos humilharmos e procurarmos o diálogo e o perdão. Podemos ter todas as soluções em nossa mente, mas nada mudará se não tomarmos uma atitude e a colocarmos em ação. Por que não toma essa decisão hoje?
Naquele exato momento, ele se levantou e saiu, desaparecendo no final do comprido corredor. Fiquei, por alguns instantes, calado e refletindo. Como um homem que compreendia todas essas verdades poderia estar vivendo uma situação como essa? Voltei meus pensamentos para Deus. Talvez seu aparente fracasso familiar tenha sido uma oportunidade para o aprendizado de grandes verdades e sábias lições para o seu amadurecimento. Compreendi que o nosso Pai Celestial é sempre o Deus da segunda chance e que “Suas misericórdias… renovam-se cada manhã.” Lamentações 3: 22, 23.


Eronides Conceição Palmeira de Nicola
Pedagogo
Psicólogo Clínico
Mestre em Psicologia da Saúde

O que mais contribui para o fim do casamento?



O que mais contribui para o fim do casamento?


Se tivesse apenas uma frase para responder ao título, citaria o Salmo 127:1, onde Salomão, o homem mais sábio que já viveu, diz que “se o Senhor não edificar a casa, em vão trabalham os que a edificam”. Neste caso, o fracasso de uma relação teria o seu motivo centralizado na ausência de um Construtor – o Senhor. Salomão, inspirado por Deus, está querendo nos dizer que para uma casa, um lar ser solidamente edificado, é preciso convidar ao Senhor para construí-lo. E isso deve começar a acontecer já no namoro. É nesta fase que os dois devem começar a orar juntos (por mais embaraçoso que possa parecer a princípio), e partilhar de momentos devocionais a dois. Depois do casamento, se essa estrutura espiritual não for sólida o suficiente, pode rachar e ruir diante dos conflitos e problemas que abalam a toda e qualquer família durante o seu ciclo vital.
Entre as crises naturais que geralmente abalam o relacionamento de um casal, e que constituem parte natural do ciclo vital da família, estão o próprio casamento (com a necessidade do estabelecimento de novas regras de convivência, etc.), o nascimento de um filho (ou de mais um filho), a adolescência de um ou mais filhos, a menopausa ou a controversa andropausa (com o fantasma da disfunção erétil) e a saída dos filhos de casa (esta é a conhecida síndrome do “ninho vazio”). Além dessas crises, existem outras circunstâncias, não comuns ao ciclo vital, mas que também podem afetar a vida familiar, como o desemprego de um ou dos dois cônjuges, a morte de um membro da família, crise financeira, doença grave ou incurável, o nascimento de um filho com deficiência ou a mudança de toda a família para outro lugar (pastores, militares e gerentes de banco sabem muito bem o que isso significa…). E não podemos deixar de citar as causas popularmente mais conhecidas para a separação como a famosa “incompatibilidade”, agressões físicas, a infidelidade por parte de um (ou dos dois), abuso sexual dos filhos e a “perda” do amor. Mas será que qualquer um desses motivos, diante de Deus, seria desculpa aceitável para a separação? A resposta, na maioria dos casos, deveria ser um firme não, mas em outros, precisamos reconhecer que não é fácil.
Por falar em “perda do amor”, esta causa acaba sendo uma das mais citadas simplesmente pelo fato de que todas as anteriores acabam desembocando nela. É por isso que, aparentemente contradizendo o que foi afirmado no início do texto, poderíamos dizer que o que mais contribuiria para o fim de um casamento seria então a tal perda do amor. Na verdade, o que se verifica é que o que mais contribui para a perda do amor dentro de uma relação é o fato de que hoje o verdadeiro amor não é mais conhecido nem reconhecido. À exceção de uns poucos felizardos, quase ninguém mais sabe como ele é! E, de acordo com uma das máximas da comunicação, aquilo que não é visto, não é conhecido e portanto não existe. Como poderia alguém conservar, cuidar ou até procurar um objeto que nunca tenha visto? Procurar um livro acerca do qual você nada sabe, nem mesmo a cor da capa, o assunto, ou o título, seria uma tarefa virtualmente impossível. Poderia até ser que você o encontrasse por acaso, mas não iria reconhecê-lo, e, possivelmente, sem saber o desprezaria! E, então, como pode alguém manter o amor dentro do casamento sem saber como ele é?
Bem, o amor verdadeiro, como é descrito na Bíblia, não é algo que mora com os homens. A experiência do amor verdadeiro é uma impossibilidade para um ser humano normal, que não anda com Deus. Isso que as pessoas sentem por aí pode até ser parecido com amor, mas ao fim percebe-se que tem muito mais de egoísmo que de amor. Ellen G. White, já há dois séculos, dizia que o oposto do amor não é o ódio, como muita gente pensa, mas sim o egoísmo (veja, por exemplo, Mente, Caráter e Personalidade, p. 205, 206, 562 e 606). Os relacionamentos do mundo moderno, dos filmes e das novelas, estão muito mais baseados nos sentimentos momentâneos do coração egoísta e pecaminoso do que nos altos e puros princípios do amor, como estão explicados na Palavra de Deus. A miséria e o sofrimento que têm assolado quase que gerações inteiras, como a nossa, têm como causa certa a imitação consciente ou não desses padrões inapropriados do assim chamado “amor”. E, mesmo assim, tem muita gente aconselhando por aí: “Você tem mesmo é que seguir o seu coração!” Mas como seguir meu coração, isto é, meus sentimentos (que mudam de uma hora para a outra), se a Bíblia diz que “enganoso é o coração do homem, desesperadamente corrupto, quem o conhecerá?” (Jr 17:9). Seguir apenas os sentimentos de um coração pecaminoso, sem Deus, não é apenas loucura. É crueldade para consigo mesmo e para com os outros.
Portanto, você e eu precisamos saber que o verdadeiro amor não é um sentimento apenas, ou uma atração louca e irresistível, irracional até. Essa ideia é fruto do pecado, da mídia moralmente comprometida, das novelas e dos sonhos de uma Hollywood sem Deus. O verdadeiro amor, na verdade, é uma parte do caráter de Deus, que Ele dá a cada dia, pela manhã, para Seus filhos, quando eles O buscam em família e em particular, através do culto familiar, da oração, da meditação e da leitura da Bíblia. Esse amor não tem em vista apenas seus próprios sentimentos, direitos e necessidades, mas em primeiro lugar os sentimentos, necessidades e direitos dos outros (Filipenses 2:3 e 4). Na verdade, como diz John Powel, “amor é um compromisso incondicional com uma pessoa imperfeita”. E é verdade: sem esse amor, não existe casamento que resista. E se durar, dura apenas para matar, para maltratar e traumatizar, e para mostrar aos filhos que, pelo menos para os pais, Deus não existe! Porque “aquele que não ama, não conhece a Deus, porque Deus é amor”!


Marcos Faiock Bomfim