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segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Suicídio é a Saída?




Nosso mundo e nossos tempos são muito estranhos. Tudo está de cabeça para baixo. Como escrevi aqui no blog há pouco tempo, o grande autor e teólogo G. K. Chesterton vivia um grau de angústia tão elevado que cogitou o suicídio – e até registrou o fato. Ele vislumbrou uma civilização absolutamente sem noção e sem sentido, pois percebeu que o efeito da liberdade extrema, postulada pelo filósofo Friedrich Nietzsche, eventualmente faria com que o mundo se tornasse um manicômio coletivo.

Líderes de facções criminosas de metrópoles como Rio e São Paulo, como Primeiro Comando da Capital (PCC) e Comando Vermelho (CV), lideram represálias contra as cidades por conta de suas agendas criminosas, incendeiam ônibus e matam policiais e civis. É um problema que surgiu como conclusão lógica da sociedade em que vivemos. Num mundo com tanta corrupção, impunidade, opressão, vítimas, falsidade, violência e barbaridades é difícil manter a sanidade. O que sobra é a violência desenfreada, a revolta insana e o desespero dos fracos.

Pessoas estão ficando loucas. Essa loucura se expressa num cordel interminável de vidas que se complicam mais a cada dia que passa. Ela leva indivíduos a comportamentos cada vez mais autodestrutivos e inviabiliza a coletividade, a compaixão e o espírito público. Só de ouvir do síndico que vai faltar água no prédio, todos correm para encher baldes e banheiras – mesmo com a informação de que, se mantiverem o consumo normal, não haverá problema, por causa dos reservatórios. Sim, porque em nossa sociedade é “cada um por si e Deus por todos”. Ninguém confia que o vizinho não vá encher a banheira, então é melhor correr logo e fazê-lo antes que fiquemos sem abastecimento.

Na descida pelos diferentes níveis do inferno moderno, tal qual o escritor Dante Alighieri fez em seu poema Divina Comédia, vemos a escalada do pecado e as suas inexoráveis consequências. Quem não se desespera num mundo como o nosso ou é louco, ou é alienado ou tem uma fé que ultrapassa o entendimento. Vez por outra, alguns se veem tão solitários, tristes, perdidos, com tanta dor e tão desiludidos que imaginam que até a morte deve ser melhor do que viver. Alguns levam esse pensamento até o fim, tirando as próprias vidas.

É dogma cristão que suicídio é um assassinato autoinfligido. Sendo assim, é impossível obter perdão. Hebreus afirma:

Mas agora ele apareceu uma vez por todas no fim dos tempos, para aniquilar o pecado mediante o sacrifício de si mesmo. Da mesma forma, como o homem está destinado a morrer uma só vez e depois disso enfrentar o juízo, assim também Cristo foi oferecido em sacrifício uma única vez, para tirar os pecados de muitos; e aparecerá segunda vez, não para tirar o pecado, mas para trazer salvação aos que o aguardam. (Hb 9.26b-28)

Para todos os efeitos, portanto, não há como ignorarmos o fato de que o que fizemos nesta vida é definitivo. Claro que Jesus perdoa o passado. Mas ele o faz mediante nossa confissão, “Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para perdoar os nossos pecados e nos purificar de toda injustiça” (1 Jo 1.9). O texto deixa claro que o perdão está ao alcance de todo o que pedir. Segue que, se não o pedirmos (nesta vida), o pecado, junto com seu poder e seu efeito, perdura. Não posso fugir dessa equação. É difícil. Tampouco posso alimentar a ideia de dar cabo da minha vida. Embora o dia a dia seja difícil, tem que ser enfrentado. Como disse o salmista:

Eu disse: Vigiarei a minha conduta e não pecarei em palavras; porei mordaça em minha boca enquanto os ímpios estiverem na minha presença. Enquanto me calei resignado, e me contive inutilmente, minha angústia aumentou. Meu coração ardia-me no peito e, enquanto eu meditava, o fogo aumentava; então comecei a dizer: Mostra-me, Senhor, o fim da minha vida e o número dos meus dias, para que eu saiba quão frágil sou. Deste aos meus dias o comprimento de um palmo; a duração da minha vida é nada diante de ti. De fato, o homem não passa de um sopro (Pausa).

Sim, cada um vai e volta como a sombra. Em vão se agita, amontoando riqueza sem saber quem ficará com ela. Mas agora, Senhor, que hei de esperar? Minha esperança está em ti. Livra-me de todas as minhas transgressões; não faças de mim um motivo de zombaria dos tolos. Estou calado! Não posso abrir a boca, pois tu mesmo fizeste isso. Afasta de mim o teu açoite; fui vencido pelo golpe da tua mão. Tu repreendes e disciplinas o homem por causa do seu pecado; como traça destróis o que ele mais valoriza; de fato, o homem não passa de um sopro (Pausa).

Ouve a minha oração, Senhor; escuta o meu grito de socorro; não sejas indiferente ao meu lamento. Pois sou para ti um estrangeiro, como foram todos os meus antepassados. Desvia de mim os teus olhos, para que eu volte a ter alegria, antes que eu me vá e deixe de existir. (Sl 39.1-13)

O desejo por sobrevivência é, sem dúvida, o instinto mais forte que o ser humano tem. Pecar contra a vida é pecar contra Deus. Sei que há gente que perde o juízo. São pessoas que enlouquecem e, por isso, se matam. Assim como num tribunal onde, por motivo de insanidade, criminosos são absolvidos de assassinato e removidos para tratamento psiquiátrico, creio que haja casos nos quais o indivíduo age contra a sua vida sem conhecimento de causa. Não sei como Deus trata isso. Nem quero tentar adivinhar. Há pessoas em Cristo que perdem o juízo? Também não sei responder. São perguntas que não têm resposta, uma vez que o ato é consumado. Agora, sei que podemos passar por depressão profunda e até ficar desnorteados. Pois o apóstolo Paulo disse:

Mas temos esse tesouro em vasos de barro, para mostrar que este poder que a tudo excede provém de Deus, e não de nós. De todos os lados somos pressionados, mas não desanimados; ficamos perplexos, mas não desesperados; somos perseguidos, mas não abandonados; abatidos, mas não destruídos. Trazemos sempre em nosso corpo o morrer de Jesus, para que a vida de Jesus também seja revelada em nosso corpo. Pois nós, que estamos vivos, somos sempre entregues à morte por amor a Jesus, para que a sua vida também se manifeste em nosso corpo mortal. (2 Co 4.7-12)

Se você está cogitando a morte, peço que faça uma oração. Grite e clame por socorro. Ore a Deus para que lhe restaure a alegria. Peça forças para enfrentar mais um dia. Não desista! Não se entregue a essa ideia mortal. Saiba que Ele não é insensível às suas lágrimas. Seu próprio filho foi “homem de dores e que sabia o que é sofrer”. Certamente há consolo para você. Abandone qualquer ilusão de que tirar a sua vida seria uma saída. Não é. Mesmo que seja para chorar ou gemer, levante o gemido a Deus, pois Ele ouve. Ele responde. E Ele socorre.


Autor: Walter McAlister

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